Nunca vou me esquecer da bronca enorme que levei aos 6 anos quando, em parceria com uma prima, me escondi no banheiro para ver meu avô sem roupa. Eu convivia com várias pepecas, mas pipis? Ainda não tinha visto nenhum. Nem mesmo o Ken e o outro boneco hiper bacana que ganhei de natal vieram com esse acessório. Eu PRECISAVA saber como era esse treco tão proibido que fazia com que meu pai fosse o único da casa a fechar a porta do banheiro ao tomar banho. Infelizmente nossa missão foi em
vão, já que a risada inconveniente da minha prima nos denunciou no exato momento em que meu avô abria o zíper da calça (nunca vou perdoá-la por isso).

Não é fácil lidar com a curiosidade infantil quando algo tão natural como a sexualidade se torna um enorme tabu. A grande maioria de nós não teve educação sexual na infância e essa falta de conhecimento muitas vezes se estende para a vida adulta, tornando o diálogo e a compreensão da sexualidade infantil um grande Tabu, se replicando de pai para filho.

Ao contrário do que muita gente pensa, a repressão sexual não está apenas na proibição, mas também no silêncio. Não falar sobre o assunto e ignorar as manifestações da sexualidade infantil é também uma forma de repreender e que pode trazer inúmeras consequências. No meu caso, por sorte meu avô era um homem de bem, que não soube lidar com a nossa curiosidade, mas nos explicou, com seu jeito nada didático, o quanto é inapropriado invadir a intimidade de outra pessoa sem pedir licença. Nossa curiosidade, porém, teria sido um prato cheio para alguém com intenções bem menos nobres.

Os silêncios da infância reverberam na vida adulta, limitando a expressão saudável da sexualidade – que está presente em todos os âmbitos de nossa vida. Eu demorei muito pra encarar a minha própria sexualidade sem medos e com naturalidade e, ainda hoje, trabalhando com o tema, sigo desconstruindo meus tabus que ainda são vários. Esse processo tem sido fundamental para meu desenvolvimento enquanto pessoa, mas principalmente enquanto mãe, já que muito mais do que uma educadora, toda mãe é um exemplo.

Sendo assim e sabendo que a sexualidade é um aspecto fundamental para
a qualidade de vida de qualquer ser humano (quem diz isso é a OMS) lidar com essas questões se torna, para os meus filhos, um investimento mais rentável do que a poupança.

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