Os tempos mudaram e as mulheres estão cada vez mais ocupando os espaços da nossa sociedade, tomando as rédeas da própria vida e conquistando autonomia. A independência financeira e a liberdade sexual são duas grandes conquistas femininas nas últimas décadas e, com elas, vieram novos paradigmas de vida e comportamento.

Com tantas novas possibilidades, a mulher moderna tem um novo relacionamento com seu próprio corpo, podendo escolher seus parceiros sexuais e decidir pela constituição ou não de uma família. Nesse movimento, vemos uma grande preocupação com a contracepção, que se resume num conjunto de métodos visando evitar temporariamente a fecundação, e com a anticoncepção, o evitamento da nidação (implantação do óvulo fecundado na parede uterina).

Entretanto, mesmo com tanta liberdade e informação, ainda estamos presas a ideias comuns ou que correspondem a interesses diferentes dos nossos. Acabamos, então, agindo no piloto automático, aceitando a alternativa contraceptiva mais comum: o anticoncepcional.

…a mulher moderna tem um novo relacionamento com seu próprio corpo, podendo escolher seus parceiros sexuais e decidir pela constituição ou não de uma família.

Anticoncepcional: prós e contras

O anticoncepcional é um método reversível de contracepção que se baseia na ingestão diária e regrada de um comprimido ou pílula que contém uma combinação de dois hormônios sintéticos: o estrogênio e a progesterona. Para iniciar seu uso é necessário consulta com médicos, em especial ginecologista e endocrinologista.

A ação da pílula anticoncepcional se dá ao inibir a ovulação, impedindo que a mulher entre em seu período fértil e, consequentemente, impossibilitando a ocorrência de uma gravidez.

Entretanto, é necessário lembrar que o anticoncepcional é um remédio, sendo utilizado também para tratamento de outras disfunções do nosso organismo (em especial de caráter hormonal, por isso a consulta com o endocrinologista é importante), e, como todo remédio, tem seus efeitos colaterais e restrições de uso.

Um exercício simples para perceber melhor como a pílula anticoncepcional tem uma grande interação com o nosso organismo é a leitura de sua bula, onde podemos obter informações precisas sobre sua correta utilização, sobre as condições em que seu efeito é  afetado (como o uso de antibióticos) e sobre seus efeitos colaterais.

Hoje, esse é o método contraceptivo mais utilizado pelas mulheres, sendo muitas vezes o único conhecido – juntamente com o preservativo (“camisinha”).

Outras Possibilidades

Quando buscamos um método contraceptivo, precisamos nos questionar: o que queremos para nós? A pílula anticoncepcional exige um grau elevadíssimo de disciplina para que tenha seu efeito garantido, além de ter impactos (positivos e negativos) consideráveis no nosso organismo como um todo. Entretanto por ser a primeira, e muitas vezes única, alternativa oferecida, acaba sendo a escolha de muitas de nós.

Porém, é necessário ter conhecimento sobre outras opções, sabendo sobre como funcionam e o que geram em nosso corpo.

Precisamos sair do senso comum, sair do piloto automático! Nosso corpo é tudo o que temos, tudo o que somos. É preciso entendê-lo melhor e fazer melhores escolhas.

O anticoncepcional não é a única alternativa a base de hormônios existente, havendo também outras possibilidades como anel vaginal, adesivo anticoncepcional, anticoncepcional injetável e implantes contraceptivos (SIU. Todos estes atuam no sistema endócrino assim como a pílula anticoncepcional.

Entretanto, existem alternativas reversíveis que não são a base de hormônio!  Como já falamos um pouco sobre os métodos hormonais, falaremos agora de dois novos tipos de contraceptivos: os baseados na percepção da fertilidade e os de barreira.

De maneira bem objetiva, esses são os métodos que impedem a entrada e ascensão do esperma no útero. Existem diversos tipos também, assim como os hormonais, mas focaremos nos dois mais comuns: a camisinha e o DIU.

A camisinha evita que os espermatozoides tenham contato com a vulva, a vagina e o útero, justamente por conter o líquido seminal dentro dela. É um método que raramente causa efeitos colaterais aos usuários (no máximo em caso de alergia, mas existem camisinhas feitas de diferentes materiais). Entretanto, exige que seja colocada de maneira correta, seja armazenada de maneira adequada e que exista lubrificação suficiente. Além disso, é o único método que previne algumas infecções sexualmente transmissíveis – devendo então ser utilizada em todas as relações, independente do uso de outro método contraceptivo ou da existência de um relacionamento estável. Lembrando que existe a versão feminina e a versão masculina desse tipo de preservativo, ambos com taxa de eficiência semelhantes.

(A Camisinha) deve ser utilizada em todas as relações, independente do uso de outro método contraceptivo ou da existência de um relacionamento estável.

O segundo método de barreira mais comum é, também, um pouco polêmico: o Dispositivo Intrauterino, DIU. Esse método consiste em um dispositivo colocado dentro do útero por um profissional de saúde capacitado (geralmente um médico ginecologista). Por ser feito de cobre, ele age matando os espermatozoides e, também, gerando uma leve inflamação uterina, impedindo a fecundação e também a nidação. O mesmo dispositivo pode ser utilizado por até 10 anos, tendo um ótimo custo-benefício e necessitando de pouco empenho em sua manutenção – que se baseia na checagem do seu posicionamento a cada 3 ou 6 meses. Tem uma altíssima eficácia justamente por não depender da correta utilização feita pela usuária (como a pílula que precisa ser tomada todo dia no mesmo horário, ou a camisinha que exige diversos cuidados antes e durante o uso).

Entretanto, a polêmica por trás do DIU se dá pois muitos médicos se recusam a implantá-los em mulheres jovens (com menos de 25 anos) ou que nunca tiveram filhos – apesar de ser um direito nosso. Além disso, é um procedimento invasivo e que gera grande desconforto momentâneo, podendo trazer complicações no processo de adaptação após a inserção (como aumento do fluxo menstrual e aumento da intensidade das cólicas).

Vale a pena citar que o diafragma é um método de barreira conhecido também, mas que tem taxa de eficácia baixa se comparado aos dois citados anteriormente e, por isso, tem caído em desuso.

Esse tipo de método exige muita disciplina e muito estudo, mas é o único onde você não precisa de nenhum tipo de intervenção externa, sendo pouco invasivo e não tendo nenhum tipo de efeito colateral. Ele se baseia na determinação do período fértil através da observação dos sinais de fertilidade do organismo feminino. Os mais famosos métodos de percepção da fertilidade são o Sintotermal e o Método de Ovulação Billings (MOB).

As técnicas de percepção da fertilidade podem ser utilizadas de forma contraceptiva mas, também, por mulheres que buscam engravidar (para aumentar as chances) e para acompanhamento da saúde do nosso corpo. Ao fazer uso como método de contracepção é necessário se abster do contato sexual (pênis-vagina) durante o período identificado como fértil.

O Método de Ovulação de Billings é considerado um método de planejamento familiar natural, contando com uma confederação nacional que capacita instrutoras em todo o país para compartilhar esse conhecimento e acompanhar as novas usuárias em seus momentos iniciais. Além disso, disponibiliza um enorme acervo de materiais para estudo gratuitamente e oferece alguns cursos introdutórios. Você pode buscar mais informações direto no site da CENPLAFAM, a organização nacional que é representante oficial da Organização Mundial do Método de Ovulação Billings.

Erros Comuns

Quando se fala sobre contracepção, é muito comum que o senso comum impere mais uma vez e nos induza a alguns erros graves. Antes de mais nada é preciso ter em mente que a “tabelinha” não é um método verdadeiramente confiável, devendo ser utilizada com muito cuidado (por que não estudar um método validado de percepção da fertilidade como o Método de Ovulação Billings?) e que todo contato pênis-vagina, mesmo que superficialmente, traz consigo chances de fecundação.

O coito interrompido é uma alternativa válida, apesar de não ser tão eficaz quanto os métodos citados anteriormente, mas que também depende de um grande estudo para sua correta aplicação – além de ser necessário contar com a disciplina do parceiro.

O ideal é que nós façamos a aliança entre dois métodos contraceptivos – um método a sua escolha e a camisinha, que como já falamos anteriormente deve estar presente em todas as relações sexuais!

Agora que você tem uma perspectiva muito mais ampla de como a contracepção pode ser feita, dos impactos positivos e negativos dos diferentes métodos e da necessidade de olhar com mais carinho e cuidado para o nosso corpo, nos conte: você vai manter ou buscar mudar seu método contraceptivo atual? Lembre-se que toda escolha deve ser feita com acompanhamento de um especialista, sendo importante você buscar a opinião de profissionais diferentes para garantir que está fazendo a melhor escolha para você. E, acima de tudo, estude muito o método que você está escolhendo para garantir que realmente é o que você busca para si!

*As opiniões contidas neste artigo são de responsabilidade do autor.

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