“Sou o fracasso. O fracasso de tudo que queriam que eu fosse. Não sou homem, nem sou mulher, sou travesti. Essa sou eu.”. Essas foram as palavras de Linn da Quebrada no primeiro dia confinada na casa mais vigiada do país.

Sim, pela primeira vez na história do Big Brother Brasil, umas das participantes do camarote é travesti. Mais do que isso, Lina Pereira dos Santos é cantora, atriz, agitadora cultural, apresentadora e muitas outras coisas, como ela mesma fez questão de ressaltar durante a rodada de apresentações dos participantes, na quinta-feira, 21.

Linn da Quebrada

Linn nasceu em São Paulo, Capital, em 18 de julho de 1990, mas cresceu em Votuporanga e São José do Rio Preto. Se engana quem acha que ela saiu do interior direto para o maior programa de entretenimento do país. Ela já passou por muita coisa. E hoje, com 31 anos, tem muita história para contar.

Ela já teve câncer no testículo em 2014. Já participou série “Segunda Chamada” da Globo. Já fez tatuagem de uma coroa de espinhos fazendo referência a Jesus Cristo. Já mudou de nome para existir. Linn da Quebrada é artista. Linn da Quebrada é travesti. E o que isso significa?

Clique aqui para conferir o dia em que Linn recebeu a identidade com seu novo nome.

Nem homem, nem mulher: travesti

A participação de Linn da Quebrada no BBB 22 abre um amplo e importantíssimo debate para a sociedade. Em 2011, o programa selecionou uma pessoa transexual, a esteticista Ariadna Arantes. Na época, ela foi a primeira eliminada da edição e o assunto identidade de gênero não tinha tanta repercussão. Hoje, com o crescimento do movimento LGBTQIA+ e a força das redes sociais, o preconceito e discriminação não passam despercebidos. Desta vez, Linn da Quebrada foi anunciada pela imprensa como a “segunda uma mulher trans a participar do BBB”. Acontece que ela não se denomina dessa forma. “Como assim?”, você deve estar pensando. Ela não se identifica necessariamente como mulher.

São consideradas transgêneros aquelas pessoas que não se identificam com o gênero imposto ao nascer. Mas o grupo não se limita. Nele, existem travestis, mulheres trans, homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias (que não se enquadram nos conceitos de “feminino” e “masculino”, como é o caso de Linn), entre outros.

Uma mulher trans é uma identidade feminina que está dentro do espectro binário de gênero, homem e mulher. Enquanto o termo travesti está no campo da feminilidade, mas vai além desta binariedade. O que significa que ela não necessariamente se identifica como mulher, pois é uma identidade única. É importante destacar, também, que a forma como a pessoa se identifica nada tem a ver com a orientação sexual. Ela pode ser heterossexual, homossexual, bissexual… o que ela quiser.

Além de tudo, a palavra travesti foi estigmatizada pela nossa sociedade. Por muitos anos, remeteu à marginalidade e prostituição. Hoje, a luta é também para quebrar esses padrões e ressignificar o termo. Portanto, adotar a identidade é também uma decisão corajosa, ativista e política. É dar a cara a tapa e abrir caminhos para uma nova história, com mais diversidade e inclusão.

Debater é preciso

Em um país que mata uma pessoa transexual a cada 48 horas, ter uma travesti em uma das maiores emissoras de TV do mundo é uma vitória diante de várias que ainda estão por vir. É dar voz à diversidade, provocar às pessoas a repensarem seus comportamentos e abrir espaço para o respeito e pertencimento a todos os seres humanos, independente de raça, gênero ou opção sexual.

A sua participação abre um debate necessário e urgente. Só em 2020, foram assassinadas 175 pessoas transexuais no Brasil, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Um aumento de 29% em relação ao ano anterior. Até quando?

O assunto pode ser um pouco complexo para quem está chegando agora, mas é extremamente importante. Esses dados demonstram o quanto o grupo LGBTQIA+ ainda sofre com a intolerância. Nesse sentido, o quão complexo é para uma pessoa transgênero se assumir como tal? Para encarar os medos da violência, seja ela velada ou escancarada? Para ter orgulho de si?

Nem todos conseguem com facilidade, outros passam por um longo processo de questionamento, receios e até doenças mentais, como depressão e ansiedade. Por isso, nesse momento de transição, é fundamental o acompanhamento de um psicólogo ou terapeuta sexual.

A terapia sexual no apoio às pessoas transgêneros

O processo de descoberta e aceitação da identidade de gênero e da sexualidade não acontece do dia para a noite e envolve muitos fatores, desde o autoconhecimento às questões familiares e sociais que o indivíduo precisa enfrentar. A terapia sexual é uma virada de chave nesse trajeto cheio de desafios. O acompanhamento ajuda a atravessar esse período, fornecendo apoio e as ferramentas necessárias para que o paciente, seja travesti ou não, identifique suas dores, tenha clareza dos seus sentimentos, consiga enfrentar os problemas que surgem no percurso e, mais do que tudo, acesse o seu interior, a sua real identidade e sexualidade.

O papel da terapia é dar condição da pessoa se autoconhecer e lidar com tudo que cerca a afirmação da identidade LGBTQIA+. É também oferecer um lugar seguro para que se possa expor medos e vergonhas, trabalhar traumas e até preconceitos enraizados. É um momento para reconhecer a própria força e encontrar o seu lugar no mundo.

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